Com células-tronco e impressão 3D, biocurativo pode acelerar cicatrização de feridas; entenda
Tecnologia foi criada por startup em parceria com a USP de Ribeirão Preto. Tratamento deve beneficiar principalmente pacientes diabéticos.
Uma startup em parceria com a USP de Ribeirão Preto (SP) criou um biocurativo que acelera a cicatrização de ferimentos na pele. O tratamento, que é inédito no país, promete melhorar o processo de recuperação em até 70% e deve beneficiar principalmente pacientes diabéticos.
A bióloga e pesquisadora Carolina Caliari explica que o biocurativo é feito a partir de células-tronco coletadas do cordão umbilical, que potencializam o efeito curativo dos tecidos do corpo.
Como funciona?
Para confeccionar o biocurativo, as células-tronco do cordão são multiplicadas e passam por um processo de bioimpressão 3D.
“É parecido com aquela impressora que a gente tem em casa mesmo, só que lá no potinho da tinta, a gente coloca um material que é gelatinoso. Parece gel de cabelo. A gente junta essas células, esse gelzinho e a impressora imprime”, detalha a bióloga.
A impressora é a responsável por dar o formato necessário ao biocurativo e, além disso, possibilita a confecção de diversos biocurativos. Ou seja, é possível produzir vários curativos desta forma, o que possibilita atender diversos pacientes.
Quais são os benefícios?
O produto ainda está em fase de testes, mas os resultados são promissores. Em parceria com a Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, os biocurativos foram testados em animais diabéticos.
“A gente viu que esse biocurativo acelerou a cicatrização dessas feridas e fez uma coisa muito interessante quando a gente pensa em regeneração de tecidos, que é auxiliar o sistema imunológico”, diz Carolina.
De acordo com a pesquisadora, o biocurativo acelera de 60% a 70% a cicatrização de feridas. A longo prazo, os pacientes também são beneficiados, pois diversas infecções podem atingir o organismo por meio de feridas abertas. Algumas delas podem levar a internações e até mesmo a amputações.
“Com o tratamento, com as células do biocurativo, a ideia é diminuir essas complicações, fechar essa ferida de fato e devolver a qualidade de vida do paciente”, afirma Carolina.
Como ele vai ser distribuído?
Agora, os pesquisadores buscam autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para conseguir aplicar os biocurativos nos pacientes. Caso consigam, o produto não deve ser disponibilizado para o consumidor final, pois será aplicado por hospitais.
“Normalmente esses pacientes são acompanhados por uma equipe de multiprofissionais. Então a ideia que é que essa equipe faça a aplicação”, explica a pesquisadora.
Além disso, apesar de a aplicação do biocurativo ser simples, o armazenamento dele exige um cuidado maior.
“A gente está entrando numa nova era dos medicamentos biológicos, e para eles essa ideia que a gente tem de entrar na farmácia e comprar o produto de prateleira vai ser um pouco diferente. É um produto muito mais delicado, mas que oferece novas perspectivas de tratamento”, avalia Carolina.
Novas perspectivas
A dona de casa Regina Fávaro lida com diabetes do tipo 2 há muitos anos. Ela toma insulina, sofre com problemas de cicatrização e procura ter cuidado até mesmo pra coçar a pele, para evitar ferimentos mais graves.
“Só saio na rua com calçado fechado pra não ter nenhuma pedrinha que possa machucar”, exemplifica. Seu maior medo é sofrer uma amputação. “Não é fácil pra uma dona de casa ficar com membros amputados”, afirma.
O filho dela, Kleber Flávaro, também é diabético. Ele possui o tipo 1 da doença e também já teve problemas de cicatrização, quando caiu e ralou a canela. Dona Regina cuidou do machucado, que demorou a sarar e rendeu uma cicatriz. Com o biocurativo, as coisas ficariam mais fáceis.
“Vai ser de muita ajuda para os diabéticos, tomara que dê certo”, torce a dona de casa.